sexta-feira, 7 de agosto de 2009

as siglas

meus pequenos nomes do meio
minúsculas tentativas de tempo
atrocidades leves de uma guerra
sem o cheiro de sangue nenhum.

o quebrar da seta precoce
uma fragrância sem a sua mentira
onde caminham esses passos súbitos -
vontade antes de tossir?

como o pequeno som da chama
o espinho do cacto que não nasceu
o luto de Niobe antes do choro
efêmeros botões da flor.

somos populados por horas
tão pequenas que nem gozam o parto
mal o mar se alegra e a onda já quebra
cedendo apenas sua emoção.

à árvore do pensamento
pertencem as folhas mais verdes e altas
mas em sua sombra é que, muito rápidas
surgem as sementes vitais.

somos feitos de decisões
coladas atrás dos pilares brancos
que só existem numa fração autômata...
pertencem a nós: mas independem.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Lótus

parar a ânsia
engolir os brabos espinhos
do dia
tecê-los como algodão
bordar
repartir o joio
amar
chamar
prescindir
mente corpo estado
desistir para existir

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Cuco

- Olha que coisa mais linda que Deus fez.

- O que, vó?

- O mar, meu filho.

- Isso é só um monte de água.

terça-feira, 26 de maio de 2009

O antiraskolnikov

Trinta e cinco anos depois do primeiro cigarro fumado, sua ex-mulher fala sobre como ele não consegue conviver com ninguém que conduza um intelecto minimamente excitante.
Passaria a noite antes dele aceitar a possibilidade de um novo sol? Apenas o pequeno animal em si, dentro de sua toca, com seus delicados cílios e bigodes, experimentava qualquer movimentação da realidade. A consciência redundava em pirâmides contrárias a qualquer circulação.
E o escuro tornou-se a parte de si que não esperava, num belo gesto ornamental de desejo, portal magnífico de sua dormente sucessão de escolhas e vaidades.
As caixas de vidas empilhadas soletraram seu vôo breve, única sentença verdadeira que havia construído em vida.
A aurora, assim, cativou a todos, num cheiro misto de ciúmes e críticas, pairando em meio ao negligente estrume do corpo em putrefação.
Vendo a notícia na televisão, um pequeno sorriu: o jantar ficara pronto. O macarrão estava bom.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Leite.

a carícia na surpresa
dos teus olhos, branca
tua pele, branca tua face
branco teu desejo sem qualquer
carência, sem sequer
o pessimismo da
prudência -
apenas tocha, apenas
rosa
laranja
pétalas profanas
da particular estação.


as corolas em sabres macios
cítrica
rica lua sazonal...
em um cálice verde
te beberei
para provar do doce amargor que rege
tuas noites de matança
de touradas pueris
massacres
estranhos
distantes desejos e velhas senhoras
a passear calmamente
entre cabras, entre céus, entre léus.
parece-me, pequena
que tua nuvem
tua derme em véu
é tão papel quanto este
é tão virgem quanto este
é tão fina quanto este
e corta tanto quanto este
quando menos se espera
e mais se acaricia:
folha que carece inda
de uma queda
apenas sua.

onde andarás
em tuas divagações sombrias,
em que áfricas existirás, em que
cidades pacíficas e extintas
rugirá a tempestade
que mora em teu semblante?
o que brilha
em teus olhos tão fugazes
que tangem mas não adentram
que queimam mas não estimam;
fogo-fátuo? farol?
esquinas... caracol...
chegarei?
que letra enquadrarias
no frio alfabeto da matilha?
onça-pintada, tigresa nova
felina, apesar do uivo
pesado
que carrega sob o couro.

falas muitas línguas
minha pescoçuda
minha girafinha.
tantas falas que até quem
não te entende te entende
pois o longe sempre é o mesmo
os galhos são sempre os altos
as folhas as verdes
as orelhas sempre as tuas
girafinha..
nasceste em gelo, ó pés
de faminto esquimó.
mas, quiçá, em orvalho raso
em Andes pouco
serra repentina sem estrada
chuva quebrada pelo grito
oco
da sereia que morreu.


sincera ovelha,
balindo de pijama e de tédio..
contemos, pois, francas estrelas
cadenas de sóis, de marés, de vias
lácteas como tu, grávidas como tu
balofa de feno
mansa, triste
cômica, cósmica, cisne
emprestada
como a luz que nos escorrega
goela abaixo
no escuro
sem pureza.
rogo-te bem azeda
framboesa
em combustão
sobre a página
que é meu leito
acesa desse leite
que és tu
em minha semana
tão complicada cama...
durmamos no jardim?

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Cacete!

A conjuntivite é uma das doencinhas mais chatas que se pode ter. Você fica com o olho incomodando, inchado, vermelho, coçando, e ainda por cima com a possibilidade de se autoinfectar, passando para o outro olho, ou infectar seus pobres amiguinhos. Entretanto, não é algo que se trate: os colírios não ajudam em porra nenhuma, a não ser como prevenção para impedir uma infecção bacteriana secundária, visto que a primeira, na enorme maioria dos casos, é viral. Enfim, assim você prossegue, com o olho na merda, sem ter o que fazer, mas sabendo que aquilo ali não causa nada, apenas enche o saco (seu e dos outros). Na moral, como diria meu grande amigo Guigz: get a real fucking disease. Ou como diria eu mesmo: ou trepa ou sai de cima. Né, viruszinho?

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Bifurcação?

Absurdos e verdades são coisas que só acontecem quando falam os corações mais jovens. Depois da dor, sempre há os nunca mais, os até quandos, os medos e receios tão impróprios e tardios quanto velhinhas que assopram velas em seus aniversários, ou ainda quanto um pombo gordo que recusa aquilo que lhe é oferecido. Porém, sempre haverá na arte um cinza de abandono ou uma vírgula que separa um sujeito daquela outra ação, elaborando assim um acalanto que nos conforta o dorso. Fim de contas, sempre poderemos contar com nossa imensa confusão, aquela que dentro do peito faz psiu!, lembrando-nos de nossa sede por salivas, lágrimas e pelos tão doces frutos da expiação...

sábado, 2 de maio de 2009

Anotações V

I.




II.
Intimidade rural

sua mão
minha calça
o meu zíper
já sorrindo..
a intenção
que se enlaça
me está hiper-
perfundindo.
como bichos
nos provamos
em suores
e cabelos
nosso nicho
entre os ramos
e os calores
dos apelos.
na labuta
do prazer
tua relva
se contrai
minha luta
a crescer
nessa selva
dos teus ais.
lanço o sumo
breve rastro
de mais dois
bichos juntos.
te consumo:
és meu pasto!
e eu teu boi
sem assunto.

III.
DDx



"A desnutrição primária é uma doença social, cuja solução só pode ser alcança mediante elevação do padrão socioeconômico e cultural da população atingida.

Esta cova em que estás, com palmos medida / É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho, nem largo, nem fundo / É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida / É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto / Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco / Porém mais que no mundo, te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca / Mas à terra dada nao se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida / É a parte que te cabe deste latifúndio / (É a terra que querias ver dividida)
Estarás mais ancho que estavas no mundo / Mas à terra dada nao se abre a boca



Boa, Chico. [2]

sexta-feira, 24 de abril de 2009

DDx


(Courtesy of Heinz E. Lehmann, M.D.)

Uncomplicated Bereavement
Uncomplicated bereavement is not considered a mental disorder, even though about one third of all bereaved spouses for a time meet the diagnostic criteria for major depressive disorder. Some patients with uncomplicated bereavement do develop major depressive disorder, but the diagnosis is not made unless no resolution of the grief occurs. The differentiation is based on the symptoms' severity and length. In major depressive disorder, common symptoms that evolve from unresolved bereavement are a morbid preoccupation with worthlessness, suicidal ideation, feelings that the person has committed an act (not just an omission) that caused the spouse's death, mummification (keeping the deceased's belongings exactly as they were), and a particularly severe anniversary reaction, which sometimes includes a suicide attempt.

Oh, pedaço de mim / Oh, metade afastada de mim / Leva o teu olhar / Que a saudade é o pior tormento / É pior do que o esquecimento / É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim / Oh, metade exilada de mim / Leva os teus sinais / Que a saudade dói como um barco / Que aos poucos descreve um arco / E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim / Oh, metade arrancada de mim / Leva o vulto teu / Que a saudade é o revés de um parto / A saudade é arrumar o quarto / Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim / Oh, metade amputada de mim / Leva o que há de ti / Que a saudade dói latejada / É assim como uma fisgada / No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim / Oh, metade adorada de mim / Lava os olhos meus / Que a saudade é o pior castigo / E eu não quero levar comigo / A mortalha do amor

Adeus.



Boa, Chico.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Anotações IV

I.
Como diriam os soldados romanos (entre outros...): PEGA O CRISTO!

II.

"Did you say fluggegecheimen?"


Ex 2:23

III.

Soneto cedo demais

Maldito espectro que habita o sétimo andar
do prédio onde moro, sombria é tua sina!
Pois, qual inquietude que te faz martelar
num sábado, às oito horas da matina?
À puta que te pariu, Longinus sem lança
Hefaesto coxo, mero escombro de gente,
não notas que teu pulso que tão cedo dança
tal ritmo medonho, faz assaz descontente
aquele pobrinho, solitário sob ti?
Nu, ele reclama, e intenta fazer de si
no dragão guarda do dourado velocino,
que ao se acordar fogo cuspirá pelas ventas
e fará do teu oito muito mais que oitenta
jurando cedo encerrar-te o doentio destino!

IV.


V.

senhoras intactas, afrouxem os cintos
que o chão é lindo & já vem vindo
one
two
three

trecho de Angélica Freitas, em Rilke Shake

VI.
No relato que faz do debate [com Albert Einstein] em sua autobiografia, Busca Sem Fim, [Karl] Popper escreve: "Tentei persuadi-lo a desistir de seu determinismo, que culminava na visão do mundo como um universo-bloco parmenídico de quatro dimensões em que a mudança era uma ilusão humana, ou quase isso."

VII.

sábado, 4 de abril de 2009

2 recados

Ciclotimia

minha tristeza
minha alegria
e a poesia!
a minha crença...
será que a noite
e mesmo o dia
também serão
minha doença?
não sei se vício
ou se vinicius
não sei se ando
ou se fernando
serei pessoa
ou somente um
quando?

Dies Irae

deita a ira
sobre o leito
minha mente
escrofulácea
arde em círculos
contra o mundo

vencido
e temente
caberá meu funeral
no estreito
que é o entendimento?

mesmo sendo
o que somos
partilho a
luz-espinho
cólera matinal
e cravo fundo
a fina lâmina -
meu ciúme
de deus
e de todas outras
estações.


segunda-feira, 23 de março de 2009

Tufush

uma palavra
coloquial
árabe
cujo significado se
origina dos gestos
feitos por um homem
sendo afogado;
"vazio, ociosidade"
ou (quem sabe?)
"desespero".

domingo, 22 de março de 2009

Passeio

I met a traveller from an antique land
Who said: Two vast and trunkless legs of stone
Stand in the desert. Near them on the sand,
Half sunk, a shatter'd visage lies, whose frown
And wrinkled lip and sneer of cold command
Tell that its sculptor well those passions read
Which yet survive, stamp'd on these lifeless things,
The hand that mock'd them and the heart that fed.
And on the pedestal these words appear:
"My name is Ozymandias, king of kings:
Look on my works, ye Mighty, and despair!"
Nothing beside remains: round the decay
Of that colossal wreck, boundless and bare,
The lone and level sands stretch far away.

The greater cats with golden eyes
Stare out between the bars.
Deserts are there, and the different skies,
And night with different stars.
They prowl the aromatic hill,
And mate as fiercely as they kill,
To roam, to live, to drink their fill;
But this beyond their wit know I:
Man loves a little, and for long shall die.

Their kind across the desert range
Where tulips spring from stones,
Not knowing they will suffer change
Or vultures pick their bones.
Their strength's eternal in their sight,
They overtake the deer in flight,
And in their arrogance they smite;
But I am sage, if they are strong:
Man's love is transient as his death is long.

Yet oh what powers to deceive!
My wit is turned to faith,
And at this moment I believe
In love, and scout at death.
I came from nowhere, and shall be
Strong, steadfast, swift, eternally:
I am a lion, a stone, a tree,
And as the Polar star in me
Is fixed my constant heart on thee.
Ah, may I stay forever blind
With lions, tigers, leopards, and their kind.
Because I could not stop for Death –
He kindly stopped for me –
The Carriage held but just Ourselves –
And Immortality.

We slowly drove – He knew no haste
And I had put away
My labor and my leisure too,
For His Civility –

We passed the School, where Children strove
At Recess – in the Ring –
We passed the Fields of Gazing Grain –
We passed the Setting Sun –

Or rather – He passed us –
The Dews drew quivering and chill –
For only Gossamer, my Gown –
My Tippet – only Tulle –

We paused before a House that seemed
A Swelling of the Ground –
The Roof was scarcely visible –
The Cornice – in the Ground –

Since then – 'tis Centuries – and yet
Feels shorter than the Day
I first surmised the Horses' Heads
Were toward Eternity –
I was angry with my friend:
I told my wrath, my wrath did end.
I was angry with my foe:
I told it not, my wrath did grow.

And I water'd it in fears,
Night & morning with my tears;
And I sunned it with smiles,
And with soft deceitful wiles.

And it grew both day and night,
Till it bore an apple bright;
And my foe beheld it shine,
And he knew that it was mine,

And into my garden stole
When the night had veil'd the pole:
In the morning glad I see
My foe outstretch'd beneath the tree.
O Captain! my Captain! our fearful trip is done, The ship has weather'd every rack,
the prize we sought is won, The port is near, the bells I hear, the people all exulting,
While follow eyes the steady keel, the vessel grim and daring; But O heart! heart! heart!
O the bleeding drops of red, Where on the deck my Captain lies, Fallen cold and dead.
O Captain! my Captain! rise up and hear the bells; Rise up- for you the flag is flung- for
you the bugle trills,

For you bouquets and ribbon'd wreaths- for you the shores
a-crowding,
For you they call, the swaying mass, their eager faces turning;
Here Captain! dear father!
This arm beneath your head!
It is some dream that on the deck,
You've fallen cold and dead.

My Captain does not answer, his lips are pale and still,
My father does not feel my arm, he has no pulse nor will,
The ship is anchor'd safe and sound, its voyage closed and done,
From fearful trip the victor ship comes in with object won;
Exult O shores, and ring O bells!
But I with mournful tread,
Walk the deck my Captain lies,
Fallen cold and dead.
In the desert
I saw a creature, naked, bestial,
Who, squatting upon the ground,
Held his heart in his hands,
And ate of it.
I said, "Is it good, friend?"
"It is bitter - bitter," he answered;
"But I like it
Because it is bitter,
And because it is my heart."
In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure-dome decree :
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.
So twice five miles of fertile ground
With walls and towers were girdled round :
And there were gardens bright with sinuous rills,
Where blossomed many an incense-bearing tree ;
And here were forests ancient as the hills,
Enfolding sunny spots of greenery.
But oh ! that deep romantic chasm which slanted
Down the green hill athwart a cedarn cover !
A savage place ! as holy and enchanted
As e'er beneath a waning moon was haunted
By woman wailing for her demon-lover !
And from this chasm, with ceaseless turmoil seething,
As if this earth in fast thick pants were breathing,
A mighty fountain momently was forced :
Amid whose swift half-intermitted burst
Huge fragments vaulted like rebounding hail,
Or chaffy grain beneath the thresher's flail :
And 'mid these dancing rocks at once and ever
It flung up momently the sacred river.
Five miles meandering with a mazy motion
Through wood and dale the sacred river ran,
Then reached the caverns measureless to man,
And sank in tumult to a lifeless ocean :
And 'mid this tumult Kubla heard from far
Ancestral voices prophesying war !
The shadow of the dome of pleasure
Floated midway on the waves ;
Where was heard the mingled measure
From the fountain and the caves.
It was a miracle of rare device,
A sunny pleasure-dome with caves of ice !
A damsel with a dulcimer
In a vision once I saw :
It was an Abyssinian maid,
And on her dulcimer she played,
Singing of Mount Abora.
Could I revive within me
Her symphony and song,
To such a deep delight 'twould win me,
That with music loud and long,
I would build that dome in air,
That sunny dome ! those caves of ice !
And all who heard should see them there,
And all should cry, Beware ! Beware !
His flashing eyes, his floating hair !
Weave a circle round him thrice,
And close your eyes with holy dread,
For he on honey-dew hath fed,
And drunk the milk of Paradise.

(para não dizer viagem..)



Ozymandias
Percy Bysshe Shelley
The Greater Cats Victoria Sackville-West
Because I could not stop for Death Emily Dickinson
A Poison Tree
William Blake
O Captain! My Captain!
Walt Whitman
The Heart
Stephen Crane
Kubla Khan Samuel Taylor Coleridge

terça-feira, 17 de março de 2009

Anotações III

I.
CORRAM QUE ESSES OVÁRIOS TÃO PRODUZINDO MUITO ESTROGÊNIO ESTRAGADO POR AÍ!


II.
Sonnet CXV

Those lines that I before have writ do lie,
Even those that said I could not love you dearer:
Yet then my judgment knew no reason why
My most full flame should afterwards burn clearer.
But reckoning time, whose million'd accidents
Creep in 'twixt vows and change decrees of kings,
Tan sacred beauty, blunt the sharp'st intents,
Divert strong minds to the course of altering things;
Alas, why, fearing of time's tyranny,
Might I not then say 'Now I love you best,'
When I was certain o'er incertainty,
Crowning the present, doubting of the rest?
Love is a babe; then might I not say so,
To give full growth to that which still doth grow?
William Shakespeare

III.
calor no sofá da sala
focinho-de-madeira
casa vazia e o diabo
nada sabe
sobre os meus cansaços

rizíveis como pássaros
meus cigarros
estão sempre acesos
e em cada trago inalo rostos
que queimam sem me pertencerem
em signos de fragilidade e confusão

caberia ainda
nesse corredor que não sabe aurora
um quadro de vidas futuras
um esboço de doença
uma patética infância
ou a esquina que vislumbro basta
para que meu voô taciturno permaneça
aéreo sem ser vazio
sem se nutrir do frio
de tantas outras solidões?

máquina suave
quem não te conhece perde por não saber
a beleza travada, precisa
a única partícula inteira de vida
que conheceremos antes
de deitarmos e não sermos sem exceção.


IV.












V.
Haikai etilista

Se a gente acha ruim
(às vezes) estar sozinho
pior é sem vinho!


VI.
Se nada houvesse ademais o que sabemos através daquilo que experimentamos sensorialmente, então por qual razão haveria sentimentos? Por qual necessidade desenvolveríamos esses turbilhões profundos que nos assolam sem controle, mas que nada passam de capa e contracapa do mesmo desentendimento? Infelizmente, a verdade é que nós podemos experimentar muito mais do que gostaríamos...


VII.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sociopatas Inc.

Alguém que chama seu nome quando você já está quase do outro lado da rua pode até fazer isso com carinho, com as mais simples intenções. Mas só vai conseguir com que você seja violentamente atropelado.

Claro que também existe o fator olhar-pra-trás, o qual depende de você. Ainda bem que na grande maioria das vezes esse não passa de um reflexo rápido, sem muito significado, o qual não dá tempo daquele ônibus chegar até você.

sábado, 7 de março de 2009

Calcium mines buried deep in your chest

Um diddle diddle diddle um diddle ay
Um diddle diddle diddle um diddle ay
So when the cat has got your tongue
There's no need for dismay
Just summon up this word
And then you've got a lot to say
But better use it carefully
Or it may change your life
One night I said it to me girl
And now me girl's my wife!

She's supercalifragilisticexpialidocious!
Supercalifragilisticexpialidocious
Supercalifragilisticexpialidocious
Supercalifragilisticexpialidocious!

quinta-feira, 5 de março de 2009

Anotações II

I.II.
Já me previa uma boa amiga minha:

-- que tudo se foda,
disse ela,
e se fodeu toda

Mas quem escreveu foi sua senhoria o senhor Paulo Leminski.

III.
A primeira vez que você sutura a barriga de alguém é um momento muito difícil de se respirar e de não pensar "puta merda, no que foi que eu me meti" o tempo todo. Agora imaginem o que não se passaria pela cabeça da pobre criatura a ser costurada!

IV.
Wittgenstein:
"O fato fundamental é que fixamos regras, uma técnica, para um jogo e que quando seguimos as regras, as coisas não se passam como havíamo suposto. Que, portanto, nos aprisionamos, por assim dizer, nas nossas próprias regras. Este aprisionamento em nossas próprias regras é o que queremos compreender, isto é, aquilo de que queremos ter uma visão panorâmica."

V.


VI.
Salve salve mano guigs! Presente dele aqui.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Liberdade

Carnaval é coisa pra quem ama a vida mais do que a si mesmo. E com toda razão do mundo!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Anotações

I.
É estranho o perceber de que a frieza é uma vizinha incrivelmente próxima da fragilidade. Assim como é estranho o choro ser tanto um tipo de coragem como de sinceridade.

II.
Disse Caetano:
Quem vê assim pensa que você é muito minha filha
Mas na verdade você é bem mais minha mãe
Meu bichinho bonito, meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Tudo é mesmo muito grande assim porque Deus quer
Minha mulher

Disse Kundera:
No entanto, sendo Marie-Claude uma mulher, que outra mulher era essa que se escondia nela e que ele tinha de respeitar? Não seria essa a idéia platônica de mulher?
Não. Era sua mãe. Jamais lhe teria ocorrido a idéia de dizer que o que ele respeitava em sua mãe era a mulher.

Disse Jung:
Os efeitos do complexo materno sobre o filho são representados pela ideologia do tipo Cibele-Átis: autocastração, loucura e morte prematura.

Disse Freud:
Tô fatal O que tenho em mente é a lenda do Rei Édipo e a tragédia de Sófocles, que traz o seu nome.

III.
(Vinicius foreshadows o luto)
Boa noite, Pablo Neruda. Neste instante
Ouvi cantar o primeiro pássaro da primavera
E pensei em ti. O primeiro pássaro da primavera
Cantou, parece incrível. Mas ainda existem pássaros
Que cantam em noites de primavera.

Estou sozinho e tudo é silêncio. Meus filhos
Foram dormir. Minha revolta, provisoriamente
Também foi dormir. A verdade, poeta
É que te tenho presente, a cerveja está bem gelada
E o pior ainda está por vir.

IV.
Um soneto itinerante, provindo de uma temporada em companhia na Europa, assim como dos momentos que imediatamente a precederam. Infelizmente aportou tarde demais para ainda ser feliz. Mas espero que, não obstante, resguarde seus significados.

Lyra

Vela branca a esmo, enorme lenço em lágrimas;
ombros sinceros e uma estrela no lugar
dos olhares fumegantes dos que passam.
O final triste de um longo livro, a chuva

cai na cidade estranha, uma frase em fúria,
o sopro de uma tarde serena e o álcool
frio nos revela aquilo que inda não somos.
Doando sentimentos duplos nas gírias

deitamos o entrave em quadrinhos, inverno
lá fora, dormentes no chão como lenha:
diamantes da gente – a imaginação.

Arde um trovão, desce o susto que ancora,
à noite no mastro não se sabe um palmo
mas a vida cora e nossa cor é rubra.

Pan...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

It's not over till it starts again.

Fluoxetina pra que.

Amigos são é pra essas coisas!
(para amar quando o amor acaba
e pagar uma cerveja a mais na conta
e claro para te fazer sair mal na foto
que você vai guardar para o resto da vida)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Evangelho

Rodrigo says:
ah ok
enfim
makes me feel funny
na verdade varias pessoas nada a ver vieram falar cmg
e todas me fizeram feel funny
parece q eu tava estacionado fora do shopping esperando por alguem por 2 anos ahuahuahuahuaha

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Doll's House

É impressionante como é esse mundinho de Lego coberto de seres humanos...

Sabe quando escutamos alguém despejar todas as coisas pesadas do mundo, quando alguém usa lágrimas como uma oferenda para os deuses que nos livram da tristeza, e espera que nós as aceitemos como nossas também, até querendo que nós vertamos nossas próprias, apenas em sinal de compaixão?

Sabe quando alguém perde o rumo, quando alguém não enxerga a bússola que carregamos bem na nossa frente o tempo todo, e precisa de alguém que segure na sua mão e o convença de que aquilo ali é de verdade o norte, mesmo sendo a indicação mais óbvia e inegavelmente real?

Ou ainda quando alguém acha difícil aceitar certos aspectos da realidade, esta que é tão diferente para cada um de nós, mas não deixa de ser a única coisa que verdadeiramente compartilhamos, a única coisa na qual todos nós, sem exceção, estamos imersos, e pela qual todos passaremos, até sair dela e então não mais existir, como aquelas bolhinhas que atravessam aquários baratos por aí.

Por muito tempo acreditei que a a retribuição mais sincera do amor fosse se tornar, em parte, a pessoa que se ama, dada uma situação dessas, de dificuldade, para fins de ajudá-la a dividir a carga negativa do acontecimento. Acreditei que colhendo em conjunto o sal das lágrimas estaria sendo sincero, estaria sendo o melhor que se pode fazer por alguém. E esperei a mesma coisa dos outros, preso a esse paradigma.

Mas, agindo de acordo com essa idéia, quando qualquer coisa de ruim, de perdido, de ausente acontecer, e a outra pessoa precisar de socorro numa situação, buscando segurança, conforto, confiança, compaixão, abordando nosso autocontrole, nossa beneficência, nossa solidariedade, o que se poderia fazer exceto mentir? O que poderíamos fazer exceto atuar até que aqueles sentimentos se fizessem um pouco nossos de verdade, para que então nós compartilhássemos daquela ceia amarga, mesmo sabendo que, nas costas das nossas mentes, nós apenas queremos que o outro saia do estado frágil, ridículo em que está, para que nós mesmos possamos obter conforto e prazer, obter a mesma coisa que aquela outra pessoa nos pede no momento, e que na verdade é o que todos nós pedimos o tempo todo.

Terminamos, então, por abdicar de um estado de espírito que havíamos conquistado por meio de nossos próprios sacrifícios, somente para ver o outro sorrir, para ver o outro voltar. Mas, mesmo fazendo isso com toda sinceridade, achando que é o melhor, não podemos nos alienar do fato de que é impossível fugir da nossa própria felicidade. Não podemos pegar um sorriso e simplesmente esmagá-lo num choro por outra pessoa. Pode até demorar, levar bastante reflexão, mas nós nos arrependeremos. Pois não só isso não é justo para a relação em si, como também nunca se sabe quando aquele sorriso vai fazer a maior das faltas. E nós sabemos que sorrisos, sim, fazem muita falta.

Passei muito tempo doando meus sorrisos pela causa dos outros, jurando sinceridade naquele ato, quando, numa verdade escondida e nada bonita, meu coração residia em outras situações, secretamente irritado por ter de passar por aquilo tudo. Demorou um pouco, mas percebi que, obviamente, ocorria o mesmo com os outros em relação a mim. E eu, bem no fundo, achava os humanos egoístas por isso. Agora, francamente, acho-nos simplesmente humanos.

Iluminando tudo num prisma retrospectivo, enxergo-me atualmente numa incrível distância dessas situações, apesar de, há apenas dias atrás, ter vivenciado episódios muito explícitos dessa atitude. Apesar disso, tudo que sinto neste momento é que todas as experiências que tive até o presente com o amor, com a confiança e com os relacionamentos não passaram, permitam-me dizer, de uma infância. Uma infância no sentido que você olha para trás e ri das coisas tolas e sem sentido que fazia, mas nada se arrepende daquilo, daquele conforto tão pequeno que, então, era quase tudo que você tinha no mundo.
E é como se eu finalmente tivesse deixado de brincar de bonecos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Alea jacta est

Sabem como é o vinagre e o óleo? É tão interessante que eles não se misturem né.. a imiscibilidade é uma beleza suave quando se bota os dois no mesmo recpiente e você enxerga nitidamente a divisão entre os dois componentes. Acho que dentro da gente tem algo parecido, não tao simplório, mas bem parecido. O amor e o ódio, junto com suas infinitas frações, sentam nesse espectro bem definido, delineado e, por que não, belo. É uma ordem natural, uma propriedade fundamental.

Contudo, às vezes, é só alguém dar uma balançadinha no recipiente que bolhas de vinagre penetram no óleo, enquanto rajadas de óleo rasgam a matéria ácida da mesma maneira. E quando se mistura com violência, quando se chacoalha mesmo, aí sim, tudo vira minúsculas gotas imersas em outras e mais outras, como olhar num espelho de provador de roupa, que te reflete até o infinito.

Quando isso acontece, é preciso calma. É preciso parar, respirar, dar um tempo, esperar que tudo sedimente de volta para onde era. Pois é nítida a diferença entre amor e ódio, mas as duas coisas são tão próximas que nós nem imaginamos como fazer para separar uma da outra.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Coração dinossauro

Tá difícil viu. Tá muito difícil mesmo. O que é que se pode fazer quando todas as músicas que você escuta te lembram da mesma pessoa, tudo que você lê, tudo que você toca ou escreve? O que fazer quando toda vez que toca um telefone qualquer, você pede que seja o seu, e pede que seja ela ligando? Comer é difícil, dormir é difícil, rir é difícil, tudo é difícil. Como se a gravidade sugasse muitas vezes mais forte, como se o ar se fizesse cada vez mais viscoso, como se o sol ora fosse quente ora frio demais.
É impossível ficar calado nesse sentimento, nessa situação de impotência e de colapso iminente. Meu único desejo no mundo neste momento é que uma conversa pudesse mudar tudo.
Mudar um sentimento que morreu. Morreu, quem sabe, por ter queimado demais. A aceitação de tudo isso está no topo de um pico alto demais, frio demais, feio demais. Nunca mais cometerei o mesmo erro, nunca mais deixarei que o amor acabe, pois já é a terceira vez que o perco efetivamente, e não o imagino voltando para mim muito mais vezes.
Especialmente porque dessa última vez foi muito o que se perdeu. Foi demais. Foi amor que para uma vida toda eu diria. Quem é que manda nisso tudo, hein? Qual o sádico que senta numa cadeirinha e observa o mundo enquanto apagando ou acendendo uma luzinha para que aquele ou aquela deem a vida um pro outro, ou não?
É peculiarmente difícil quando na parte oposta falta sentimentos. Como naquela música de McCartney, "and in her eyes you see nothing, no sign of love behind the tears, cried for no one,
a love that should have lasted years. You want her, you need her, and yet you don't believe her when she said her love is dead. You think she needs you". E é isso mesmo. É ao mesmo tempo estranho, ver aquele fogo apagado, tentar tirar calor de uma coisa que não brilha mais, e desesperador, pois você sente uma ânsia tão tremenda por aquele plectro, aquele frio na barriga, aquela batida a mais do coração, que você pensa que ela ainda segura algo por você.
Mas não é assim que funciona.
Algumas pessoas simplesmente adquirem, ao longo de toda sua vida, uma resposta imunológica ao amor, aparentemente. Quando se chega em determinado limiar, quando o amor é algo grande e completo e maduro e sadio e faz você querer demais alguém para ser feliz, aí entra em jogo um intricado sistema de defesa, que silenciosamente vai desmembrando a relação, fatiando as emoções, fazendo de tudo aquilo que passou uma infecção prévia, completamente erradicada.
No meu caso, é o contrário, eu sou completamente naive. Não tenho barreiras para isso, me entrego e sou feliz vivendo em conjunto, vivendo em companhia, me apoiando em alguém, nutrindo-me enquato nutro, em simbiose. E quando acaba, ai quando acaba, eu me perco, eu me procuro, eu me acho, eu me perco de novo, e caio de vão em vão até que suma aquilo que estava por dentro, até que finalmente eu me faça uma concha onde não se escuta o mar quando se tenta ouvir o seu interior.
São reações completamente diferentes, não é? Uma, ao passar de certo ponto, adormece e involui, a outra perde a cabeça e acha que aquilo vai durar para sempre. Uma tem medo de depender demais, a outra precisa depender demais para ser completa. A única coisa em comum é que as duas são reações extremadas, reações que machucam não só a outra pessoa, como aquela que as sentem também. Nada devia acabar em meio a tantos fogos de artifício. Agora só nos vale aprender.
Estranho demais. Tudo é estranho na verdade. Bocas que se completavam e agora se crispam ao encontrarem-se, olhos que enxergam mas não veem através um dos outros, abraços que se traduziam em desejo e que agora mal soletram companhia, risos que brilhavam de sinceridade e sorviam a luz do ambiente, e que agora não passam de resquícios de um mundo que se soterrou em cinzas para ir sufocando aos poucos o que resta abaixo dele. Foi assim com os dinossauros. E assim será com meu coração.