segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Liberdade

Carnaval é coisa pra quem ama a vida mais do que a si mesmo. E com toda razão do mundo!

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Anotações

I.
É estranho o perceber de que a frieza é uma vizinha incrivelmente próxima da fragilidade. Assim como é estranho o choro ser tanto um tipo de coragem como de sinceridade.

II.
Disse Caetano:
Quem vê assim pensa que você é muito minha filha
Mas na verdade você é bem mais minha mãe
Meu bichinho bonito, meu bichinho bonito
Meu bichinho bonito
Tudo é mesmo muito grande assim porque Deus quer
Minha mulher

Disse Kundera:
No entanto, sendo Marie-Claude uma mulher, que outra mulher era essa que se escondia nela e que ele tinha de respeitar? Não seria essa a idéia platônica de mulher?
Não. Era sua mãe. Jamais lhe teria ocorrido a idéia de dizer que o que ele respeitava em sua mãe era a mulher.

Disse Jung:
Os efeitos do complexo materno sobre o filho são representados pela ideologia do tipo Cibele-Átis: autocastração, loucura e morte prematura.

Disse Freud:
Tô fatal O que tenho em mente é a lenda do Rei Édipo e a tragédia de Sófocles, que traz o seu nome.

III.
(Vinicius foreshadows o luto)
Boa noite, Pablo Neruda. Neste instante
Ouvi cantar o primeiro pássaro da primavera
E pensei em ti. O primeiro pássaro da primavera
Cantou, parece incrível. Mas ainda existem pássaros
Que cantam em noites de primavera.

Estou sozinho e tudo é silêncio. Meus filhos
Foram dormir. Minha revolta, provisoriamente
Também foi dormir. A verdade, poeta
É que te tenho presente, a cerveja está bem gelada
E o pior ainda está por vir.

IV.
Um soneto itinerante, provindo de uma temporada em companhia na Europa, assim como dos momentos que imediatamente a precederam. Infelizmente aportou tarde demais para ainda ser feliz. Mas espero que, não obstante, resguarde seus significados.

Lyra

Vela branca a esmo, enorme lenço em lágrimas;
ombros sinceros e uma estrela no lugar
dos olhares fumegantes dos que passam.
O final triste de um longo livro, a chuva

cai na cidade estranha, uma frase em fúria,
o sopro de uma tarde serena e o álcool
frio nos revela aquilo que inda não somos.
Doando sentimentos duplos nas gírias

deitamos o entrave em quadrinhos, inverno
lá fora, dormentes no chão como lenha:
diamantes da gente – a imaginação.

Arde um trovão, desce o susto que ancora,
à noite no mastro não se sabe um palmo
mas a vida cora e nossa cor é rubra.

Pan...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

It's not over till it starts again.

Fluoxetina pra que.

Amigos são é pra essas coisas!
(para amar quando o amor acaba
e pagar uma cerveja a mais na conta
e claro para te fazer sair mal na foto
que você vai guardar para o resto da vida)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Evangelho

Rodrigo says:
ah ok
enfim
makes me feel funny
na verdade varias pessoas nada a ver vieram falar cmg
e todas me fizeram feel funny
parece q eu tava estacionado fora do shopping esperando por alguem por 2 anos ahuahuahuahuaha

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A Doll's House

É impressionante como é esse mundinho de Lego coberto de seres humanos...

Sabe quando escutamos alguém despejar todas as coisas pesadas do mundo, quando alguém usa lágrimas como uma oferenda para os deuses que nos livram da tristeza, e espera que nós as aceitemos como nossas também, até querendo que nós vertamos nossas próprias, apenas em sinal de compaixão?

Sabe quando alguém perde o rumo, quando alguém não enxerga a bússola que carregamos bem na nossa frente o tempo todo, e precisa de alguém que segure na sua mão e o convença de que aquilo ali é de verdade o norte, mesmo sendo a indicação mais óbvia e inegavelmente real?

Ou ainda quando alguém acha difícil aceitar certos aspectos da realidade, esta que é tão diferente para cada um de nós, mas não deixa de ser a única coisa que verdadeiramente compartilhamos, a única coisa na qual todos nós, sem exceção, estamos imersos, e pela qual todos passaremos, até sair dela e então não mais existir, como aquelas bolhinhas que atravessam aquários baratos por aí.

Por muito tempo acreditei que a a retribuição mais sincera do amor fosse se tornar, em parte, a pessoa que se ama, dada uma situação dessas, de dificuldade, para fins de ajudá-la a dividir a carga negativa do acontecimento. Acreditei que colhendo em conjunto o sal das lágrimas estaria sendo sincero, estaria sendo o melhor que se pode fazer por alguém. E esperei a mesma coisa dos outros, preso a esse paradigma.

Mas, agindo de acordo com essa idéia, quando qualquer coisa de ruim, de perdido, de ausente acontecer, e a outra pessoa precisar de socorro numa situação, buscando segurança, conforto, confiança, compaixão, abordando nosso autocontrole, nossa beneficência, nossa solidariedade, o que se poderia fazer exceto mentir? O que poderíamos fazer exceto atuar até que aqueles sentimentos se fizessem um pouco nossos de verdade, para que então nós compartilhássemos daquela ceia amarga, mesmo sabendo que, nas costas das nossas mentes, nós apenas queremos que o outro saia do estado frágil, ridículo em que está, para que nós mesmos possamos obter conforto e prazer, obter a mesma coisa que aquela outra pessoa nos pede no momento, e que na verdade é o que todos nós pedimos o tempo todo.

Terminamos, então, por abdicar de um estado de espírito que havíamos conquistado por meio de nossos próprios sacrifícios, somente para ver o outro sorrir, para ver o outro voltar. Mas, mesmo fazendo isso com toda sinceridade, achando que é o melhor, não podemos nos alienar do fato de que é impossível fugir da nossa própria felicidade. Não podemos pegar um sorriso e simplesmente esmagá-lo num choro por outra pessoa. Pode até demorar, levar bastante reflexão, mas nós nos arrependeremos. Pois não só isso não é justo para a relação em si, como também nunca se sabe quando aquele sorriso vai fazer a maior das faltas. E nós sabemos que sorrisos, sim, fazem muita falta.

Passei muito tempo doando meus sorrisos pela causa dos outros, jurando sinceridade naquele ato, quando, numa verdade escondida e nada bonita, meu coração residia em outras situações, secretamente irritado por ter de passar por aquilo tudo. Demorou um pouco, mas percebi que, obviamente, ocorria o mesmo com os outros em relação a mim. E eu, bem no fundo, achava os humanos egoístas por isso. Agora, francamente, acho-nos simplesmente humanos.

Iluminando tudo num prisma retrospectivo, enxergo-me atualmente numa incrível distância dessas situações, apesar de, há apenas dias atrás, ter vivenciado episódios muito explícitos dessa atitude. Apesar disso, tudo que sinto neste momento é que todas as experiências que tive até o presente com o amor, com a confiança e com os relacionamentos não passaram, permitam-me dizer, de uma infância. Uma infância no sentido que você olha para trás e ri das coisas tolas e sem sentido que fazia, mas nada se arrepende daquilo, daquele conforto tão pequeno que, então, era quase tudo que você tinha no mundo.
E é como se eu finalmente tivesse deixado de brincar de bonecos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Alea jacta est

Sabem como é o vinagre e o óleo? É tão interessante que eles não se misturem né.. a imiscibilidade é uma beleza suave quando se bota os dois no mesmo recpiente e você enxerga nitidamente a divisão entre os dois componentes. Acho que dentro da gente tem algo parecido, não tao simplório, mas bem parecido. O amor e o ódio, junto com suas infinitas frações, sentam nesse espectro bem definido, delineado e, por que não, belo. É uma ordem natural, uma propriedade fundamental.

Contudo, às vezes, é só alguém dar uma balançadinha no recipiente que bolhas de vinagre penetram no óleo, enquanto rajadas de óleo rasgam a matéria ácida da mesma maneira. E quando se mistura com violência, quando se chacoalha mesmo, aí sim, tudo vira minúsculas gotas imersas em outras e mais outras, como olhar num espelho de provador de roupa, que te reflete até o infinito.

Quando isso acontece, é preciso calma. É preciso parar, respirar, dar um tempo, esperar que tudo sedimente de volta para onde era. Pois é nítida a diferença entre amor e ódio, mas as duas coisas são tão próximas que nós nem imaginamos como fazer para separar uma da outra.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Coração dinossauro

Tá difícil viu. Tá muito difícil mesmo. O que é que se pode fazer quando todas as músicas que você escuta te lembram da mesma pessoa, tudo que você lê, tudo que você toca ou escreve? O que fazer quando toda vez que toca um telefone qualquer, você pede que seja o seu, e pede que seja ela ligando? Comer é difícil, dormir é difícil, rir é difícil, tudo é difícil. Como se a gravidade sugasse muitas vezes mais forte, como se o ar se fizesse cada vez mais viscoso, como se o sol ora fosse quente ora frio demais.
É impossível ficar calado nesse sentimento, nessa situação de impotência e de colapso iminente. Meu único desejo no mundo neste momento é que uma conversa pudesse mudar tudo.
Mudar um sentimento que morreu. Morreu, quem sabe, por ter queimado demais. A aceitação de tudo isso está no topo de um pico alto demais, frio demais, feio demais. Nunca mais cometerei o mesmo erro, nunca mais deixarei que o amor acabe, pois já é a terceira vez que o perco efetivamente, e não o imagino voltando para mim muito mais vezes.
Especialmente porque dessa última vez foi muito o que se perdeu. Foi demais. Foi amor que para uma vida toda eu diria. Quem é que manda nisso tudo, hein? Qual o sádico que senta numa cadeirinha e observa o mundo enquanto apagando ou acendendo uma luzinha para que aquele ou aquela deem a vida um pro outro, ou não?
É peculiarmente difícil quando na parte oposta falta sentimentos. Como naquela música de McCartney, "and in her eyes you see nothing, no sign of love behind the tears, cried for no one,
a love that should have lasted years. You want her, you need her, and yet you don't believe her when she said her love is dead. You think she needs you". E é isso mesmo. É ao mesmo tempo estranho, ver aquele fogo apagado, tentar tirar calor de uma coisa que não brilha mais, e desesperador, pois você sente uma ânsia tão tremenda por aquele plectro, aquele frio na barriga, aquela batida a mais do coração, que você pensa que ela ainda segura algo por você.
Mas não é assim que funciona.
Algumas pessoas simplesmente adquirem, ao longo de toda sua vida, uma resposta imunológica ao amor, aparentemente. Quando se chega em determinado limiar, quando o amor é algo grande e completo e maduro e sadio e faz você querer demais alguém para ser feliz, aí entra em jogo um intricado sistema de defesa, que silenciosamente vai desmembrando a relação, fatiando as emoções, fazendo de tudo aquilo que passou uma infecção prévia, completamente erradicada.
No meu caso, é o contrário, eu sou completamente naive. Não tenho barreiras para isso, me entrego e sou feliz vivendo em conjunto, vivendo em companhia, me apoiando em alguém, nutrindo-me enquato nutro, em simbiose. E quando acaba, ai quando acaba, eu me perco, eu me procuro, eu me acho, eu me perco de novo, e caio de vão em vão até que suma aquilo que estava por dentro, até que finalmente eu me faça uma concha onde não se escuta o mar quando se tenta ouvir o seu interior.
São reações completamente diferentes, não é? Uma, ao passar de certo ponto, adormece e involui, a outra perde a cabeça e acha que aquilo vai durar para sempre. Uma tem medo de depender demais, a outra precisa depender demais para ser completa. A única coisa em comum é que as duas são reações extremadas, reações que machucam não só a outra pessoa, como aquela que as sentem também. Nada devia acabar em meio a tantos fogos de artifício. Agora só nos vale aprender.
Estranho demais. Tudo é estranho na verdade. Bocas que se completavam e agora se crispam ao encontrarem-se, olhos que enxergam mas não veem através um dos outros, abraços que se traduziam em desejo e que agora mal soletram companhia, risos que brilhavam de sinceridade e sorviam a luz do ambiente, e que agora não passam de resquícios de um mundo que se soterrou em cinzas para ir sufocando aos poucos o que resta abaixo dele. Foi assim com os dinossauros. E assim será com meu coração.