terça-feira, 26 de maio de 2009

O antiraskolnikov

Trinta e cinco anos depois do primeiro cigarro fumado, sua ex-mulher fala sobre como ele não consegue conviver com ninguém que conduza um intelecto minimamente excitante.
Passaria a noite antes dele aceitar a possibilidade de um novo sol? Apenas o pequeno animal em si, dentro de sua toca, com seus delicados cílios e bigodes, experimentava qualquer movimentação da realidade. A consciência redundava em pirâmides contrárias a qualquer circulação.
E o escuro tornou-se a parte de si que não esperava, num belo gesto ornamental de desejo, portal magnífico de sua dormente sucessão de escolhas e vaidades.
As caixas de vidas empilhadas soletraram seu vôo breve, única sentença verdadeira que havia construído em vida.
A aurora, assim, cativou a todos, num cheiro misto de ciúmes e críticas, pairando em meio ao negligente estrume do corpo em putrefação.
Vendo a notícia na televisão, um pequeno sorriu: o jantar ficara pronto. O macarrão estava bom.

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